quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Abstrato X Figurativo



dezinfluênciasmaisuma 5: Nine


Le Canard qui Aimait les Poules (O Pato que Amava as Galinhas)


Eu creio que o conflito entre figurativo e abstrato nunca existiu. Tudo isso que nós chamamos de "arte" no campo da imagem é uma abstração. E é assim por sua natureza psíquica, mesmo. É fatal. Nós não fazemos um nariz. O que o desenhista faz é evocar, através de traços e golpes de pincel, o conceito de "nariz". Ele o desdobra em um espaço de duas dimensões (altura e largura), que é aquele da folha ou tela. Uma forma tridimensional real é portanto evocada, simbolizada e "amassada" sobre uma forma bidimensional. É um artifício abstrato que, nas mãos de bons artesãos, pode transmitir mensagens sentimentais, exercendo um poderoso poder de sugestão sobre as massas. Mas é uma representação abstrata.


Basta se lembrar da sólida união que sempre existiu entre os artistas e a Igreja na busca da evangelização. As pessoas acabaram se convencendo que sob as abóbadas haviam realmente anjos que voavam porque, mesmo que não fosse verdade, era verossímil e isso nos ajudava a familiarizar com a coreografia de uma nova espiritualidade. Essas técnicas tornavam tragáveis os episódios mais insólitos da fábula católica original. Paolo Uccello, obsecado por uma versão acreditável da perspectiva, esgrimava a aperfeiçoar essas representações, não perseguindo apenas uma pesquisa formal, mas uma necessidade estratégica, ideológica. Com a interrupção do individualismo, todo o sistema de especialidades em representar a realidade desmoronou, o mito da perspectiva desabou, o jogo é então liberado, mas abstrato. Ele sempre foi.


A abstração precede a palavra que a designa. Isso me faz lembrar uma frase do escritor argentino Roberto Arlt: "A realidade é uma hipótese da imaginação". 


(Carlos Nine, hommage à l'arrière-cour, 2008. Entrevista a F.D.)





dezinfluênciasmaisuma 1: Cosey
dezinfluênciasmaisuma 2: Pintura Corporal
dezinfluênciasmaisuma 3: Franquin
dezinfluênciasmaisuma 4: Monet

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARTOON ROOTS I



Um pequeno resumo da história das raízes do desenho animado: PARTE UM


Estima-se que do total de filmes produzidos nos EUA, desde a invenção do desenho animado e até a década de 50, quase metade está perdido. A maior parte desses filmes eram curta-metragens, cartoons feitos para o entretenimento. No primórdios dessa história surgem inúmeros pequenos estúdios, que desaparecem ou fundem-se entre si. Profissionais (e idéias, estilos e técnicas) migram de um estúdio para o outro, constantemente. E assim por diante.







Barré-Bowers Studio (1914-1923)
Dos filmes realizados tornou-se mais conhecido por adaptar Mutt & Jeff, uma tira de quadrinhos bastante popular na época, para desenho animado. Em 1915 produziram o que é considerada uma das primeiras séries de animação, The Animated Grouch Chasers.
Seus filmes foram distribuídos de 1914 a 1916  pela Edison Studio (uma empresa do inventor Thomas Edison) e de 1916 a 1923 pela Bud Fisher Film Corporation (Bud Fisher era o criador de
Mutt & Jeff
)












Bray Productions (1914-1928)
É o primeiro estúdio a pensar a animação como um negócio e desenvolver técnicas de sistematização, linha de produção (pipeline) e fluxo para atingir metas de distribuição. Bray também patenteou algumas técnicas e equipamentos que criou. Colonel Heeza Liar in Hunt (1914) é considerado o início de uma das primeiras séries de animação com o conceito de personagem principal. Alguns filmes também apresentaram um protótipo do personagem de um velhinho caipira, que seria explorado em diversos filmes de outros estúdios, principalmente por Paul Terry, com o nome de Farmer Al Falfa.
Os filmes foram distribuídos por uma sequência de emprêsas diferentes, refletindo a constante preocupação em negociar melhores condições contratuais: Pathé (1913-1916), Paramount (1916-1921), Edison Studios (1917), Goldwyn Pictures (1919-1921), W. W. Hodkinson (1922-1923), Standard Cinema (1924-1925) e Film Booking Office (1924-1926)






IFS- International Film Service (1915-1918) 
Criado em New York pelo magnata da comunicação, William Randolph Hearst, que viu nos desenhos animados uma oportunidade de explorar os direitos que detinha das tiras de quadrinhos publicadas em seus jornais, entre as quais Krazy Kat, Bringing Up Father (no Brasil, Pafúncio) e Katzenjammer Kids (no Brasil, Os Sobrinhos do Capitão).
Entrou para a história como o primeiro investimento maciço em animação (1915) e, com o fracasso do negócio, a primeira demissão maciça (1918), conhecida como Black Monday, por ter acontecido em uma segunda-feira. Desse fato surgiu a idéia de alguns animadores (e também alguns oportunistas), de que era necessário se criar um sindicato profissional para a categoria de trabalhadores do setor.
Os filmes foram distribuídos por Vitagraph Studios (1916-1917), Pathé (1916-1917) e Educational Pictures (1918-1919)






Fleischer Studios (1919-1942)
Foi um dos mais bem sucedidos estúdios de animação da época. Aprimoraram a técnica de rotoscopia e tinham também uma multiplane própria, considerada por alguns a mais bem desenvolvida de todas.
Seu primeiro personagem popular é
Koko, o palhaço. Com Dizzie Dishes, de 1930, lançam a primeira heroína feminina do cartoon, Betty Boop. Em 1938, seus filmes com Popeye (adaptados dos quadrinhos de Elzie Segar) ultrapassam Mickey em popularidade.
Em 1937 passam pela primeira greve dos trabalhadores da história da indústria de animação. Em 1941 lançam
Superman (adaptado dos quadrinhos), primeiro curta de uma série extremamente bem produzida.
Os filmes foram distribuídos por Bray Productions (1919-1921) e Paramount (1921-1942). De 1942 em diante, o acervo fraguementou-se em complicadas disputas jurídicas.






Pat Sullivan Animation Studio (1919-1930)
Lançaram o primeiro personagem realmente popular da animação, o Gato Félix, que reinaria absoluto até a chegada de Mickey em um filme sonoro. Coincidiu a essa chegada a morte repentina de Sullivan e a desarticulação do estúdio.
Até hoje a identidade do real criador do gato é contestada. Os americanos a reividicam para Otto Messmer, artista americano que trabalhava à sombra de Sullivan. Já os australianos dizem que foi realmente Pat (que era australiano), a mente criativa que concebeu
Félix.
Filmes distribuídos por Paramount Pictures (1919-1921), Winkler Pictures (1922-1925), Educational Pictures (1925-1928) e Copley Pictures (1929-1930)






Van Beuren Studios (1920-1936)
No início o estúdio era uma sociedade de Van Beuren com Paul Terry, que depois criaria os Terrytoons. Inauguraram a exploração de um filão garimpado até hoje, a adaptação de fábulas de Esopo, com Aesop’s Film Fables (1920). Muito antes de Zé Carioca, lançaram uma série de filmes com papagaios (Parrotville). Ficaram conhecidos por ter adaptado, elegantemente, as tiras de Otto Soglow, Little King (Reizinho). Chegaram a alguma popularidade com uma dupla de garotos, Tom & Jerry, cujo filme que mais marcou é Piano Tooners, de 1932. Não confundir com o gato e o camundongo, com o mesmo nome, que seriam criados na MGM, por Hanna & Barbera, sete anos depois.
Filmes distribuídos por Keith Albee (1921-1928) e RKO (1928-1937
)





Walt Disney Productions (1923- hoje)
É o único estúdio que existe até hoje, ainda que não tenha mais nada a ver com o espírito original de descoberta, camaradagem e criatividade, que já começou a esvanecer em 1938, na mudança de Hyperion para Burbank. Espírito que foi definitivamente enterrado com sua transformação final, nos anos 80, em uma corporação cujo único objetivo é vender todo tipo de produto consumista, para atender as metas econômicas de seus acionistas.
Os primeiros trabalhos desse estúdio misturavam primitivamente uma menina real,
Alice, com desenhos animados. Mas os olhos do público, então, estavam voltados para o gato Félix, do estúdio concorrente, de Pat Sullivan. O sucesso realmente viria em 1928, com Steamboat Willie, um curta sonoro (novidade pra época), que utilizava o recurso do som de forma marcante e que lançava o herói que se tornaria a marca Disney, Mickey Mouse.
Em 1933,
Tree Little Pigs (Os Três Porquinhos) marcaria uma evolução monumental na arte de animar com acting, ao mesmo tempo em que seu tema sonoro, a canção “Quem Tem Mêdo do Lobo Mau?”, tornaria-se o primeiro grande hit nascido em um filme de animação. Em 1937 é lançado o primeiro longa metragem do estúdio, Snow White & the Seven Dwarfs (Branca-de-Neve e os Sete Anões). Não é o primeiro longa de animação produzido no mundo, como querem alguns, mas é o primeiro com um storytelling capaz de sustentar a exibição com interesse amplo da platéia.
Em 1938 o crescimento do estúdio o obriga a sair da Hyperion e mudar-se para Burbank. Nesse momento a característica empresarial do negócio e a competição entre os empregados começa a dominar o espírito do estúdio capitaneado por Disney. Walt tornaria-se amargo com o fracasso de crítica e público do longa
Fantasia e com a greve dos empregados em 1941. De 41 a 45 o estúdio mantém-se graças aos serviços prestados ao governo dos EUA, entre filmes de treinamento e propaganda para a guerra, e material de política de boa vizinhança, como Saludos Amigos (1943) e Three Caballeros (1945), que lançam Joe Carioca (Zé Carioca). Joe estrela ao lado do personagem mais popular do estúdio, Donald Duck, que há muito superara o camundogo Mickey em interesse junto à platéia.
Também são marcas desse período de criatividade borbulhante, o longa despretensioso, mas simples e preciso clássico de humor e animação,
Dumbo (1942) e o longa que lança um novo patamar na animação de animais e mortes de mãe do personagem principal, Bambi (1942).
Filmes distribuídos por Winkler Pictures & Universal Pictures (1923-1928), Pat Powers (1928-1930), Columbia Pictures (1930-1932), United Artists (1932- 1938), RKO (1939-1953) e finalmente pela Buena Vista, empresa da própria Walt Disney Company (1953-hoje)






Charles Mintz Studio/ Screen Gems-Columbia Studio (1925-1942?1946)
Antes de criar seu próprio estúdio, Mintz era o produtor que contratava Disney e sua equipe para produzir as comédias de Alice (mistura primitiva de animação com filmagem live action). De olho no sucesso do Gato Félix, Mintz contrata Disney para produzir filmes com um personagem similar, o coelho Oswald. Em 1925 contrata diretamente a equipe de Disney (que ficaria apenas com seu parceiro Iwerks) e passa ele mesmo a produzir os curtas com o coelho.
Mintz tem seu estúdio desde o início produzindo em um acordo de distribuição com a Columbia Pictures. Segue assim por 15 anos, durante os quais destaca-se por adaptar de forma contínua os quadrinhos cult de George Herriman,
Krazy Kat, e por uma versão, em 1937, de um conto clássico de Hans Christian Andersen, The Little Match Girl (A Pequena Vendedora de Fósforos).
Em 1940 a Columbia toma o controle do estúdio de Charles, que passa-se a chamar Screen Gems (Jóias da Tela). O estúdio continua por apenas mais alguns anos, mas torna-se um dos principais preconizadores da inovação que viria nos anos seguintes. Em 1941 Frank Tashlin dirige a série
The Fox & the Grapes, antecipando o Coyote de Chuck Jones. E em 1942 John Hubley dirige Professor Small & Mr. Tall, no estilo que consagraria a UPA dez anos depois.
Há controvérsias se o fechamento do estúdio é em 42 ou em algum outro ano até 46, já que o período é bem rarefeito de produtos. Em 1948 o estúdio é reativado, seguindo até 1974, mas para produzir filmes de baixo custo para a TV. Os personagens de maior sucesso desse período são
The Fox and the Crow. (A Raposa e o Corvo). Filmes distribuídos pela Columbia Pictures de 1925 até hoje.





Harman & Ising (1928-1941)
Harman & Ising tem uma história bastante particular: Colaboradores de Disney nos primeiríssimos anos, ainda antes do surgimento de Mickey, e desde Kansas City para Los Angeles, trabalham incansavelmente para inovar em técnica e criação. Criando um dos primeiros sistemas de sincronismo de voz e animação, fazem em 1928, com os próprios meios, um curta-piloto com o personagem de um garotinho negro e esperto, Bosko, the Talk-Ink Kid , considerado o primeiro cartoon com diálogo.
Na época, Leon Schlensinger, um homem de negócios com um pé no cinema, e dono de uma empresa, a Pacific Titles, que fornecia letreiros para os filmes de Hollywood, ainda mudos, está de olho em como migrar seu negócio para a era do cinema sonoro. Ao conhecer o trabalho da dupla Harman & Ising, acerta-se como o produtor dos filmes, que seriam distribuídos pela Warner Bros e inaugurariam o que seria conhecido como o estúdio de animação WB. Em 1930, com o personagem
Bosko, Harman & Ising realizam aquele que é considerado o primeiro Looney Tune, Sinkin in the Bathtub
Mas, inconformados com os baixos orçamentos, deixam Leon e levam seu estúdio para a MGM, dando lá início ao primeiro estúdio de animação da Metro, sob a produção executiva de Fred Quimby. Para a MGM, entre diversas produções marcantes, destacam-se
The Bear That Couldn’t sleep (1939): de Ising, primeiro filme com o personagem Barney Bear; Peace on Earth (1939): de Harman, considerado o melhor filme do estúdio e até hoje um poderoso líbelo contra a guerra e The Milky Way (1940) que é o primeiro curta de animação a receber um Oscar, que não tinha sido, até então, produzido por Disney. Os dois deixam a MGM em 1941.


Em breve, PARTE DOIS, com Walter Lantz, Terrytoons, Iwerks, Puppetoons, Warner Bros, MGM, UPA, Paramount-Famous e DePatie-Freleng.




terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Aqui






Aqui


Nesta pedra


Alguém sentou olhando o mar


O mar não parou pra ser olhado


Foi mar pra tudo quanto é lado




(Paulo Leminski)



O Anjo da História diz:

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