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Le Canard qui Aimait les Poules (O Pato que Amava as Galinhas) |
Eu creio que o conflito entre figurativo e abstrato nunca existiu. Tudo isso que nós chamamos de "arte" no campo da imagem é uma abstração. E é assim por sua natureza psíquica, mesmo. É fatal. Nós não fazemos um nariz. O que o desenhista faz é evocar, através de traços e golpes de pincel, o conceito de "nariz". Ele o desdobra em um espaço de duas dimensões (altura e largura), que é aquele da folha ou tela. Uma forma tridimensional real é portanto evocada, simbolizada e "amassada" sobre uma forma bidimensional. É um artifício abstrato que, nas mãos de bons artesãos, pode transmitir mensagens sentimentais, exercendo um poderoso poder de sugestão sobre as massas. Mas é uma representação abstrata.
Basta se lembrar da sólida união que sempre existiu entre os artistas e a Igreja na busca da evangelização. As pessoas acabaram se convencendo que sob as abóbadas haviam realmente anjos que voavam porque, mesmo que não fosse verdade, era verossímil e isso nos ajudava a familiarizar com a coreografia de uma nova espiritualidade. Essas técnicas tornavam tragáveis os episódios mais insólitos da fábula católica original. Paolo Uccello, obsecado por uma versão acreditável da perspectiva, esgrimava a aperfeiçoar essas representações, não perseguindo apenas uma pesquisa formal, mas uma necessidade estratégica, ideológica. Com a interrupção do individualismo, todo o sistema de especialidades em representar a realidade desmoronou, o mito da perspectiva desabou, o jogo é então liberado, mas abstrato. Ele sempre foi.
A abstração precede a palavra que a designa. Isso me faz lembrar uma frase do escritor argentino Roberto Arlt: "A realidade é uma hipótese da imaginação".
(Carlos Nine, hommage à l'arrière-cour, 2008. Entrevista a F.D.)
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