quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Os autores de Asterix

QUE O CÉV NÃO CAIA SOBRE NOSSAS CABEÇAS ! *I



O DOMÍNIO DOS DEVSES*VI

René Goscinny nasceu em Paris em 1926 e mudou com seus pais para a Argentina com dois anos de idade, onde viveu toda a infância e a adolescência. Em 1948 foi para os Estados Unidos onde começa a trabalhar, como desenhista, com Harvey Kurtzman, o criador da revista “Mad”. Decide mudar para a França e depois a Bélgica, onde se lança como redator humorista. Cria então o texto de diversas séries, como “Modeste et Pompon” ( com Franquin ), “Le Signor Spaghetti” ( com Attanasio ) e “Oumpah-pah” ( já com Uderzo ). Em 1959 supervisiona a criação da revista Pilote, para a qual cria Asterix, junto com seu colaborador, o desenhista Albert Uderzo. Recebe em 1967 o título máximo francês das Artes e Letras.
Continua trabalhando como redator-chefe de Pilote até 1974, lançando e descobrindo muitos dos principais autores de BD francófone. Escreve o roteiro de diversas outras séries além de Asterix, como “Iznogoud” ( com Tabary ), o grão-vizir que quer ser califa no lugar do califa e “Lucky Luke”( com Morris ), o caubói que atira mais rápido que a própria sombra.
Em 1974 , sempre com Uderzo, cria o estúdio de desenho animado Idéfix.
Em 1977 René morre, após uma crise cardíaca, deixando mulher e filha. Foi o fim da parceria com Uderzo, iniciada vinte e seis anos antes, quando René vivia sozinho em Paris e salvava o estômago graças aos sanduíches que a mãe de Uderzo lhe dava.
Albert Uderzo nasceu em 1927,em Reims, como Alberto, filho de uma família de imigrantes italianos, recém chegada à França. O talentoso desenhista de Asterix veio em um corpo daltônico e com seis dedos em cada mão. Os dedos extra foram removidos, mas o daltonismo o acompanha até hoje. Aos 13 anos, vivendo na França ocupada, trabalha em um jornal como desenhista. Também trabalha como auxiliar de marceneiro e, obrigado pelo exército nazista, como soldador em uma fábrica de armamentos.
O fim da guerra, em 44, abre espaço para um talentoso desenhista que quer fazer desenhos animados. De fato, o interesse pela animação é visível na obra de Uderzo, com suas formas arredondadas e cheias de volume. O proprio Asterix talvez pudesse se disfarçar de anão da Branca-de-neve, sem muito esforço. Durante quinze anos o talento de Uderzo evolui para, em 1959, criar Asterix com Goscinny, em estilo humorístico, e “Tanguy e Laverdure”, pilotos de caça, com Charlier, em estilo realista e técnica apurada. Em 1967, no entanto, abandona todos os seus outros projetos para se dedicar exclusivamente a Asterix.
Com a partida prematura de Goscinny, em 1977, segue produzindo as histórias do pequeno gaulês, acumulando as funções de desenhista e roteirista. A maioria dos leitores sente a mudança e percebe que a qualidade dos roteiros não é a mesma, mas o sucesso continua assim mesmo, sempre com recordes de venda. Uderzo aposenta-se em 2011, mas a série continua, sem a mesma qualidade, nas mãos de Jean-Yves Ferri (texto) e Didier Conrad (desenho).
O sucesso de Asterix em quadrinhos garantiu a Uderzo transpor seus personagem diversas vezes para o desenho animado, como sempre foi seu desejo. Casado desde 1953 com Ada, com quem teve uma filha, Sylvie, falece, em 2020, serenamente no sono, também por crise cardíaca. 
A biografia dos autores nos remete novamente aos irredutiveis gauleses que resistem diante do exército de César. Goscinny certamente conheceu a pressão social diversas vezes em sua vida. Afinal, quando desembarcou nos Estados Unidos com 22 anos de idade, sozinho, era um sul americano judeu que vivera na Argentina por 20 anos. Uderzo viveu sua infância e adolescência em uma França ocupada. E, na verdade, os primeiros leitores de Asterix, em 59, eram crianças nascidas durante ou imediatamente depois da ocupação alemã.

Texto atualizado dia 24 de Março de 2020, por ocasião do falecimento de Albert Uderzo.

I-QUE O CÉV NÃO CAIA SOBRE NOSSAS CABEÇAS: Os gauleses de Asterix são destemidos e só tem medo de uma coisa - Que o céu lhes caia na cabeça. Este conjunto de textos foi escrito em 2001, pouco depois do ataque às Torres Gêmeas. Deveriam ser a linha guia de uma exposição no Centro Cultural São Paulo, sobre a BD francófona. Mas a mesma foi cancelada devido ao argumento, do então cônsul francês em São Paulo, que a BD na França já não tinha mais importância e seria melhor organizar um evento de hip hop. A conclusão a que cheguei depois dessa fala, é de que o governo francês não é muito criterioso na escolha de seus representantes no Brasil.


VI-O DOMÍNIO DOS DEVSES: É o nome da décima sétima aventura (1971). E também o nome de um conjunto habitacional que Júlio César quer construir ao lado da aldeia gaulesa.

2 comentários:

  1. Estou adorando desta série de posts sobre o Asterix, Céu.
    Quando me perguntavam se eu lia livros, eu dizia: "sim, eu leio Asterix. Gosto dos livros que têm bastante figura." Hahaha.
    Sabia do Daltonismo de Uderzo mas não sabia da questão dos 6 dedos.
    Daltonismo prá um desenhista soa como surdez para um compositor.
    Realmente geniais esses caras, hein!
    Abraço!

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  2. Se você procurar as primeiras edições dos primeiros títulos de Asterix, que eram coloridas pelo próprio Uderzo, vai perceber que às vezes os legionários tem o uniforme vermelho ao invés de verde. E, mais evidente ainda, grama vermelha...
    O que me chama mais atenção na biografia dos dois é perceber como tudo que antecede a criação de Asterix confabula para que ele seja criado da maneira como foi. Destino é um autor implacável...
    Uderzo e Schulz (Peanuts) são os desenhistas que, apenas com o próprio lápis, mais enriqueceram. É um fenômeno isolado que termina nos anos 70, pois os empresários, a partir da década de 80, tem sabido como esganar cada vez mais os direitos autorais daqueles que começaram a partir de então.
    Outro abraço!

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