quarta-feira, 23 de junho de 2010
A Simplicidade para o Bem da Clareza
Pra quem queira entender um pouco mais porque misturo desenho animado com meditação, traduzi abaixo um trecho do livro de Walt Stanchfield, Drawn to Life (Traçado a Vida), editado por Don Hahn (Focal Press).
Para os leitores deste blog que estão mais interessados em alta yoga e meditação, criei um outro blog que trata mais desse assunto: Kriya Yoga Hariharananda, http://kyharihara.blogspot.com/
(ver o link ao lado)
Segue o texto de Stanchfield:
Qualquer um de vocês que tenha estudado Zen estará familiarizado com a prática de ver tudo, constantemente, como se fosse a primeira vez. Você não desenterra o passado e o usa para fazer julgamentos no presente - tudo é novo, há apenas o agora, este momento, então cada momento tem aquela impressão de ser novo.
Aplicado para o desenho, cada momento revela a pose como se você acabasse de vê-la pela primeira vez. Cada traço que você faz com o lápis é como a lâmina de uma faca que entalha a pose como se fosse a primeira vez que você a visse. Essa é a razão pela qual precisamos aprender a captar aquela primeira impressão imediatamente - enquanto está fresca, enquanto ainda está no estágio de primeira impressão - antes que comece a apagar-se.
A razão pela qual continuo com a ladainha "esqueça-se do detalhe", neste tipo particular de estudo, é porque o detalhe não acrescenta nada neste estágio do desenho. Rascunhar com detalhe irá fazer com que você perca a primeira impressão. A hora de estudar estrutura dos ossos ou musculatura é na aula de anatomia, ou em casa, com um bom livro de anatomia. Em uma aula de análise da ação, um círculo solto é tudo que você precisa para localizar e sugerir um joelho, cotovelo ou pulso. Duas linhas é tudo que você precisa para localizar e sugerir as várias partes dos braços e pernas: preferivelmente uma reta e a outra curva. A reta é usada onde está esticado, e a curva no lado que está encolhido.
Quando digo localizar e sugerir, isso é exatamente aquilo tudo o que preciso. O que você está desenhando são poses, não partes. O mais simples tipo de sugestão é o caminho mais certeiro para um bom desenho... Permaneça simples e expressivo.
O animador e mentor Stanchfield era conhecido no estúdio Disney como a arma secreta, tendo formado uma geração de animadores como Glen Keane, Andreas Deja, John Musker, Ron Clements e John Lasseter. Antes da publicação deste livro, suas notas sobre animação foram passadas informalmente entre todos, por muitos anos.
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Muito bom!
ResponderEliminarCéu, você acha que importante um animador ter um estilo, como o pessoal de HQs e ilustração editorial, ou você acha que o animador tem que ser flexível e não ter um estilo?
Que legal! Já tinha ouvido falar bem desse livro, mas nunca tinha lido um trecho sequer. É um dos livros que vou comprar assim que conseguir um tico de grana...
ResponderEliminarAliás, Céu, você conhece o livro "Desenhando com o Lado Direito do Cérebro", de Betty Edwards? Muitos artistas adotam esse livro como sua bíblia, mas já ouvi falar de gente que o critica e etc. Nunca li.
ResponderEliminarRaff,
ResponderEliminarUm Animador que seja um sujeito que anime os personagens ou efeitos precisa ser um ótimo interprete de movimento. Se for um animador de desenho animado, quanto melhor desenhar...melhor. Pois será capaz de interpretar diferentes estilos. O que não impede que ele também desenvolva um estilo próprio. Mas isso é secundário.
Alguns animadores especializam-se em serem Designers de Animação. Esses precisam criar e dominar vários estilos. E precisam ter habilidades de desenho acima da média, para propor design em técnicas diferentes, de recorte digital a CG3D, desenho animado limitado, clássico e estilizado.
Marcelo,
ResponderEliminarTem gente que diz "Não consigo desenhar nem casinha". Conhece alguma? Pra essas esse livro da Betty (e muitos outros), serve pra tirar o bloqueio.
O Caruso (não sei se o Paulo ou o Chico) diz que prefere desenhar com o lado de dentro do cérebro.
: )
Já o lance do Stanchfield é atingir aquelas pessoas que não tem bloqueio em fazer linhas, e que precisam aprimorar sua capacidade de fazer fluir melhor e com mais leveza o que vai na memória visual e criativa, do cérebro para o papel.
De qualquer lado do cérebro, pra qualquer lado do papel.
A propósito:
ResponderEliminarAinda este ano vamos ter no NUPA umas aulas de desenho de ação, com modelo vivo, segundo alguns exercícios propostos pelo Stanchfield e outros propostos por este escriba desenhador aqui.