Dia desses minha amiga Nancy Beiman citou alguns cartunistas pouco lembrados que contribuíram para a criação e evolução do design de animação. Um deles ela já tinha me apresentado quando trabalhamos juntos na Amblimation: T.S. Sullivant
Algumas pérolas do homem:
(se você clicar nas imagens abaixo, elas aumentam)
Sullivant, estadunidense, nasceu em 1854. E as soluções de caricatura animal que ele criou são a base que se usa até hoje.
Nancy agora citou outros quatro nomes.
Sidney Sime, inglês do período victoriano final, nascido em 1867. É apontado como precursor do desenho fantástico:
H. M. Bateman, australiano nascido em 1887. Fazia cartum político e sátira social. Seu estilo buscava uma reinterpretação do que se fazia nos quadrinhos e na arte contemporânea. O resultado, estilizações agudas e claras:
Percy Crosby, estadunidense nascido em 1891. O estilo de Crosby influenciou fortemente uma maneira de desenhar leve e que disfarça a estrutura sólida com um ênfase no aspecto caligráfico da linha. Snoopy e Calvin são herdeiros desse estilo:
Rose O'Neill, estadunidense nascida em 1874. Ilustradora virtuosa foi a seu tempo uma das mais bem pagas profissionais. Além do refinamento visual, O'Neill era militante do movimento feminista e contribuiu para que a mídia do cartum, ilustração e desenho animado tornasse-se menos conservadora e chauvinista:
Este pode ser um ponto de partida para você pesquisar mais e encontrar muitas imagens, conceitos e idéias interessantes. Por minha conta incluo aqui na lista da Nancy, um brasileiro. Veja bem, não sou nem um pouco inclinado a patriotadas e uma das coisas que mais me arrepia nessa miríade de mentiras do governo Lula é a facilidade com que se inventa, no discurso, um Super Brasil, que não passa de uma arrogante farsa. Então, dito isso, a razão de colocar este brasileiro nesta lista não é por ele ser brasileiro, mas por ele ser MUITO BOM:
J.Carlos nasceu em 1884. Por força de reinterpretar para publicações brasileiras, personagens do desenho animado e dos quadrinhos americanos, J. Carlos acabou por criar toda uma série de estilizações únicas e que ainda aguardam ser melhor exploradas.
Pra fechar este post, apresentar um pouco mais La Beiman. Nancy é aquilo que nós chamamos de enciclopédia ambulante. Além de ser animadora e diretora de animação competente e lúcida, conhece a história da animação e os princípios da técnica como poucos. Escreveu dois livros, um sobre story-board, Prepare to Board! e outro, na boca do forno, sobre animação propriamente, Animated Performance:
Nancy já morou e trabalhou em diferentes lugares do planeta, mas atualmente divide sua residência com Gizmo, em Toronto.
Saudações Nancy & Gizmo!
Nossa, eu nem imaginava que na era vitoriana já tinha gente fazendo cartuns parecidos com os de hoje...
ResponderEliminarE considerando as limitações técnicas da época, melhores que os de hoje...
ResponderEliminargosto muito deste aqui:
ResponderEliminarGeorge Cruikshank 1792-1878
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:G-Cruikshank-Inconveniences-Crowded-Drawing-Room-1818.jpg
https://www.countway.harvard.edu/chm/rarebooks/exhibits/satires/page_4.html
abs
sp
Não conhecia, Spacca. Muito legal. Se considerar a época, já estava tudo aí, né?
ResponderEliminarE pelo jeito o D. Pedro I era muito ligado em se vestir com a moda da época.
Os exemplos desse post são referências da Nancy. Eu só incluí o J. Carlos porque acho que ele estava uns 30 anos na frente da sua própria época também.
Tem um personagem no Corto Maltese chamado Spacca. Mas só na versão original italiana.
Nossa! Escrevi a palavra época 3 vezes em seguida. Ainda bem que a língua portuguesa brazuca virou um lixo mesmo e vale qualquer coisa, como nunca antiss neçti paiz.
ResponderEliminarComo o J.Carlos trabalha dentro do estilo predominante em sua época (as capas da Vogue, posters, outros desenhistas Art-Déco e similares), procurei outro que parecesse "a fonte" dele, algum modelo estrangeiro numa daquelas revistas de cartum (tipo Simplicissimus).
ResponderEliminarEmbora similares possam ser facilmente localizados, J.Carlos se coloca acima de todos, pela elegância, segurança, precisão da caricatura, tudo isso junto. Por exemplo, tem caras ótimos, como o Georges Lepappe, ilustrador e figurinista, super elegante, mas o desenho não tem a mesma firmeza.
O J.Carlos realmente é um desbunde.
Tenho me tornado cada vez mais admirador do Debret. Veja só, são desenhos a princípio modestos, como ilustrações de uma enciclopédia. Mas fiquei com o olho treinado de tanto estudar seus desenhos para copiar roupas, detalhes arquitetõnicos etc.
Alguns desenhos copiei inteiros para minhas HQs, no meu estilo. caramba, como é difícil! Como ele pensou em cada atitude.
Tem a cena de uma procissão, em que no meio das pessoas tem uma mulher com um bebê no colo. Não são dois meros esquemas: a mãe está realmente com o corpo inclinado sobre o bebê, querendo protegê-lo do sol. E é tudo assim. Como a anatomia e a composição são neoclássica, a primeira impressão talvez seja meio banal (para mim era); mas vendo mais atentamente, tenho descoberto muita vida naqueles desenhos. E eram todos feitos pequenos, num meio sulfite.
É muito bom descobrir esses caras e se maravilhar com eles. Esta semana andei copiando uns Mickeys do Floyd Gottfredson, entre 39 e 49 (quando ele ganha aquelas calças compridas com a cintura lá em cima). É muito instrutivo. Eu curtia quando tinha 8, 10 anos e me inspirava naquelas posições tortas do Floyd, mas na época não sabia copiar (não sabia esboçar com volumes transparentes, nem captar a proporção). Hoje sei, e por isso resolvi fazer esses treinos, que só fazem bem.
abração
sp