quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A mulher em Asterix

QUE O CÉV NÃO CAIA SOBRE NOSSAS CABEÇAS ! *I




A ROSA E O GLÁDIO *VII

Já podemos olhar para o século passado e ver nos quadrinhos um registro da evolução dos costumes, da moda, da história. Se em 1943, Tintin encontra na Escócia uma moderna tv com uma caixa de metro e meio de altura e uma tela de 15 polegadas ( “A Ilha Negra”), o mesmo Tintin irá ligar seu aparelho colorido de 29 polegadas e caixa de pvc em 1976 ( “Tintin e os Pícaros”).
Em 1978, Eugène Krampon congela seus dias no Goulag siberiano ( “O Goulag”de Dimitri ) até se tornar alvo de guerrilheiros afegãos em 1981 ( “Os Reis do Petróleo”) ou de um míssil da USA Army, em 1991, no mar da Turquia ( “Exocet, aqui estamos nós!”).
Em 1959 , quando Asterix e seus companheiros bigodudos começaram a azucrinar a Paix Romana, não haviam mulheres na aldeia gaulesa. Permanecem assim, apenas como figurantes de segundo plano, disputando espaço com as árvores e os passarinhos até 1963. Nesse ano, em sua sexta aventura ( “Asterix e Cleópatra” ) , surge a primeira personagem feminina. Cleópatra, justamente.
Abre a aventura disputando com César “quem é mais forte”. Cleópatra é bela, teimosa, caprichosa e castradora.
Nos anos seguintes a aldeia gaulesa começaria a dar destaque a algumas personagens femininas. A ”mulher de Veteranix”, sempre identificada pelo nome do marido, é uma ruiva voluptuosa e vaidosa, casada com o ancião da aldeia . “Falbalá” é a loira virginal tipo Barbie, que caminha pelos campos colhendo flores, enquanto espera a volta do namorado. “Naftalina”( “Bonemine”, no original ) é a mulher do chefe. Baixinha, castradora, histérica, sempre preocupada em saber se seu marido tem ou não status entre os demais.
A primeira história onde as mulheres vêm verdadeiramente para o primeiro plano é de 1970. Em “A Cizânia” as mulheres da aldeia competem pelo poder. Pequenas baixezas, mesquinharias, fofocas estratégicas. Reuniões para lanches repletos de mexericos. Os homens também não surgem menos antipáticos nesta história de disputa e desafeto.
Se repararmos nas datas poderemos entender, para o mal e para o bem, o tipo de desenvolvimento da imagem e da presença feminina na sociedade dos anos 60, ao menos do ponto de vista dos homens.
A partir de 1980, a confusão toma conta dos papéis da aldeia.É o ano em que Uderzo lança seu primeiro álbum solo, sem a colaboração de Goscinny, que escrevia as histórias. E todos os personagens perdem um pouco de sua definição, misturam-se os estereótipos e as identidades. Uma psicanalista francêsa, Laurence Erlich, analisa que, metaforicamente, talvez Goscinny fosse o “pai” da obra e Uderzo a “mãe”. Com a perda do pai, desapareceu um conceito forte da identidade dos papéis.
De fato,em 1991, com “A Rosa e o Gládio”, o drama vêm a tona. Uderzo produz uma história que busca tratar exatamente do papel feminino e da disputa do poder, mas fica no meio do caminho. As mulheres da história ocupam todos os papéis masculinos, indistintamente se tornam legionárias e centuriãs romanas, chefe da aldeia, bardo e guerreiras. Os homens ficam sem papel, atordoados. Seria o reflexo de uma época onde a questão da identidade masculino-feminina induz a confusões ? São loucos, esses humanos! *VIII


I-QUE O CÉV NÃO CAIA SOBRE NOSSAS CABEÇAS: Os gauleses de Asterix são destemidos e só tem medo de uma coisa - Que o céu lhes caia na cabeça. Este conjunto de textos foi escrito em 2001, pouco depois do ataque às Torres Gêmeas. Deveriam ser a linha guia de uma exposição no Centro Cultural São Paulo, sobre a BD francófona. Mas a mesma foi cancelada devido ao argumento, do então cônsul francês em São Paulo, que a BD na França já não tinha mais importância e seria melhor organizar um evento de hip hop. A conclusão a que cheguei depois dessa fala, é de que o governo francês não é muito criterioso na escolha de seus representantes no Brasil.

VII-A ROSA E O GLÁDIO: É a vigésima nona aventura (1991). A quinta produzida por Uderzo, individualmente. O título faz referência ao tema principal dessa atrapalhada história: os papéis da mulher e do homem.

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