quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Ser decente e bem sucedido em uma sociedade suja. Ou: memórias do pai do sapo.
Atualmente se vê no Brasil (e em muitos outros lugares do mundo), pessoas desonestas e mentirosas em posição de poder e liderança.
Diante disso, muitos se perguntam: -Vale a pena ser decente?
Ou mesmo: - Como educar meus filhos? Vou ensinar eles a serem decentes? Vale a pena?
Bem, se você ainda não percebeu, dentro de você, o poder de ser uma pessoa do bem, procure melhor. Porque nada substitui a força, o amor e a paz que tem fonte em nosso interior.
Mas você pode achar que ser bem sucedido não combina com ser honesto e virtuoso. Então, veja este depoimento de Dave Goelz sobre Jim Henson. Pra quem não sabe Jim Henson foi um empresário e artista muito bem sucedido. É conhecido por ter criado o Muppet Show e os bonecos da Vila Sésamo, mas soube também administrar muito bem o próprio talento e montar empresas e negócios altamente lucrativos. Sempre com integridade, respeitando o público e as pessoas com quem trabalhava.
Dave Goelz trabalhou com Henson por muitos anos e diz o que segue. É muito simples, mas pode ser essencial para você lembrar que não vale a pena desistir de ser uma pessoa íntegra. E alguém vai lembrar de você com Amor, e como um exemplo:
Dave Goelz: - Jim teve cinco filhos próprios e, por natureza, ele era extremamente brincalhão. Ele se relacionava bem com crianças porque ele podia acessar sua própria criança interna. O que era fascinante é que ao mesmo tempo em que ele conseguia atuar como um astuto homem de negócios, ele conseguia integrar a brincadeira no processo.
Eu agora tenho minhas próprias crianças. E comecei a acreditar que todos nós nascemos perfeitos. Bem, não absolutamente perfeitos, mas com certeza completamente sem maldade. Como pai, um dos meus objetivos é conseguir educar minhas crianças para sobreviver neste mundo sem perder as qualidades de criança: inocência, confiança, otimismo, curiosidade e decência.Tenho certeza que é possível, porque Jim era a encarnação viva disso.
domingo, 2 de outubro de 2016
Amor e Escuta
O Unicórnio não é um cavalo com chifre. Percebe? |
O único jeito de aprender o que é amar, é aprender a ouvir.
Amar é em primeiro lugar ouvir.
Ouvir o outro. Escutar e entender.
Ouvir os outros. Escutar e compreender.
Ouvir o mundo. Escutar e descobrir.
Ouvir a Si. Escutar e realizar.
Este é o caminho do Amor e da Compaixão.
Aceitar.
Mas cuidado com quem só quer falar e não quer ouvir. Há um limite para tudo.
Dentro do som há uma vibração.
Dentro da vibração há uma luz.
Dentro da luz há um som.
C.D. NYC 16 10 02
sábado, 3 de setembro de 2016
A índia que derrubou a presidente
Antigamente todo dia era dia de
Saci.
Agora é um dia só por ano. E tem que ser dividido com a Congada, o Acarajé e a Mula-sem-cabeça, entre muitos outros. |
Antigamente todo dia era dia de Saci.
Agora é Belo Monte, Brumadinho e Mariana
Agora é Belo Monte, Brumadinho e Mariana
O PIVÔ:
foto: André D'Elia
|
Essa índia pajé Ikpeng na foto ao
lado.
É o que eu percebi no dia em que a vi falando pela primeira vez, cinco
anos atrás.
Quando
Lula e Dilma passaram por cima dos direitos indígenas e enfiaram Belo Monte goela
abaixo do povo. Pra construir uma usina ineficiente, em área de proteção
ambiental, ferrando meio ambiente, pescadores e nativos. Uma usina que não
conseguiu investimento privado, porque é um péssimo negócio, e que foi bancada
com o dinheiro dos impostos. É, o povo trabalhador é quem paga a conta. A bagatela de mais de 30 bilhões de reais, e
aumentando. Sabe-se que o custo de construção seria no máximo de 20 bilhões. Pra onde vai o
resto do dinheiro, mais de 10 bilhões de reais?
Quando
Lula e Dilma e seus aliados fisiológicos, estavam achando que podiam
tudo, inclusive destruir a beleza que nos cerca, essa índia deu o empurrãozinho
que faltava pros Mamaués começarem a fazer seu trabalho. Saiam da frente,
Assuras, Anhangás e Vampiros! Pajelança de índio amazônico não é pra qualquer
um.
A
imagem é do documentário Belo Monte,
Anuncio de uma Guerra, dirigido pelo meu sobrinho André D’Elia. Foi lançado em 2012. Pode
ser assistido aqui neste link: BELO MONTE, ANÚNCIO DE UMA GUERRA.
Se
quiser ir direto na índia, está nos 37 minutos.
O INALCANÇÁVEL:
Em nenhum lugar do mundo política é
preto e branco. Sempre, qualquer grande ação política, vai trazer junto com ela
boas e más pessoas, boas e más intenções. Em última instancia um governo cai,
sempre, porque a maior parte do povo está insatisfeita. E o que toma seu lugar
não é garantia de nada. Cai também, se a insatisfação continuar em maioria. É
um movimento natural que não tem papo ideológico que mude.
Eu
me entendo com qualquer pessoa que esteja disposta a conversar e revisar o que
acredita. Por que o primeiro a não ter certeza de nada sou eu.
Lá no fundo
mesmo, eu acho que qualquer coisa que acontece é uma somatória do que as
pessoas realmente são. E as pessoas não são só o que elas falam e pensam.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
De volta para o futuro do pretérito
Quem costuma passar por aqui, sabe que dei um tempo do blog.
Na verdade dei um tempo do Brasil. E desde final de agosto de 2015 estou em Nova York. Vim aqui pra exibição de estréia de um curta metragem no qual criei a sequência em animação, Love Will Rescue You (O Amor vai salvar você). E acabei ficando, desde novembro, como diretor de arte da Little Airplane.
Eshu Yoruba (detalhe) Meu primeiro desenho totalmente digital. Fiz pra aprender a usar a Cintiq. |
Qual o destino de quem abdica do próprio discernimento?
O que me levou a escrever de volta aqui no blog foram três coisas. Uma segue agora. As outras, quem sabe depois.
Um estudante chamado Ricardo Macedo fez uma entrevista comigo, pra incluir em uma tese de mestrado dele.
Aí me deu vontade de publicar aqui, pra quem quiser.
Segue:
O que me levou a escrever de volta aqui no blog foram três coisas. Uma segue agora. As outras, quem sabe depois.
Um estudante chamado Ricardo Macedo fez uma entrevista comigo, pra incluir em uma tese de mestrado dele.
Aí me deu vontade de publicar aqui, pra quem quiser.
Segue:
1) Para você, o que é
cinema de animação?
É uma arte que envolve
todas as outras e que tem ampla capacidade de comunicação. Mas até hoje essas
virtudes foram pouco exploradas.
Apesar de seu potencial
coletivo, ainda é prioritariamente valorizada como obra de um diretor. Apesar
de seu potencial de comunicação, ainda é utilizada para narrativas muito
convencionais.
2) O Estado Brasileiro no
decorrer das décadas apoiou o cinema de animação? (estúdios, animadores, filmes
etc).
Esse é um assunto
complexo. É clichê pensar que o Estado tem que apoiar o cinema. Seria
irresponsável da minha parte dar uma resposta curta e simplista para esse
assunto. Então fico apenas com uma resposta direta a sua pergunta: Sim, desde
que eu me lembro como profissional, comecei no fim dos anos 70, sempre me
lembro de algum apoio. Sempre foi no entanto um apoio muitíssimo menor do que o
dado a filmes live action.
3) Qual época foi a melhor
para a animação no Brasil?
“Melhor” é uma palavra
muito relativa. O que posso dizer certamente é que a recuperação econômica do
Brasil no início deste século, somada ao boom da animação no mundo todo, que
vem desde o final da última década do século XX, contribuíram para esta época
recente ser a mais produtiva. Ao menos em quantidade de filmes.
Em 2006 eu apresentei ao
governo um estudo detalhado de engenharia econômica, feito por minha conta,
sobre o potencial econômico da animação brasileira no mercado internacional.
Apresentei também uma sugestão de estratégia para conquistar esse mercado. Infelizmente
só arregalaram os olhos com a possibilidade de lucro e investiram de uma forma
que mais pulverizou verba do que outra coisa. Os animadores, estúdios e
produtoras não ajudaram nada, porque não souberam aproveitar esse potencial da
melhor forma. Partiram para o cada um por si, disfarçado com discursos
exteriores de união. É uma pena. A
animação brasileira produziu muita coisa, mas se conseguiu se viabilizar
independente do Estado, é o que vamos ver agora que o país quebrou.
4) Como você compara os
estúdios do Brasil com os da Europa e América do Norte?
É uma pergunta ampla
demais. Existem muitos tipos diferentes de estúdios de animação, na Europa e na
América do Norte. Com tamanhos, pipelines e tipos de produção muito diferente
entre si.
Mas tentando responder:
Animação, pelo menos por
enquanto, é uma arte industrial. Ela se consolida em países industrializados,
porque tem uma relação de tecnologia, mercado e distribuição típica de países
industrializados. O Brasil é um pais que tem indústria, mas em desenvolvimento.
A diferença é essa. Enquanto em países da Europa, America do Norte, Ásia e
Oceania existe uma produção de animação consolidada, no Brasil ela ainda não
estabilizou plenamente e é mantida a fundo perdido (e pulverizado) pelo Estado.
5) Comente sobre o Anima
Mundi e ABCA - Associação Brasileira de Cinema de Animação.
Alguns diretores do Anima
Mundi ficariam surpresos em ver você colocar o Festival e a ABCA na mesma
pergunta.
Anima Mundi é um festival
independente, criado e dirigido até hoje pelos mesmos quatro animadores.
Cresceu bastante, graças à competência
e trabalho de seus diretores, e é um dos maiores festivais de animação
do mundo. Certamente contribuiu e continua contribuindo para a divulgação e
expansão da animação no Brasil.
Em relação à ABCA, fui
sócio fundador e membro do Conselho de Ética. Assisti a inúmeras manipulações e
durante um certo tempo achei que aconteciam porque a direção, do eixo Rio-São
Paulo, não tinha experiência com associações. Como eu tinha uma experiência
prévia longa com ONGs sócio-ambientais, tentei orientar a direção. Aí percebi
que não estavam nem um pouco interessados em desfazer as manipulações e me
retirei da mesma. Não me pareceu uma associação séria. Isso aconteceu há mais
de dez anos e ignoro se conseguiram sanar seus problemas.
6) Por que existe
preconceito por parte dos cineastas em relação à animação e os animadores com
conceitos, por exemplo, de que animação não é cinema?
Por ignorância.
Natura Artis Magistra: A Natureza ainda é a minha maior inspiração. Foto arte que fiz a partir de uma foto que tirei na aldeia Kalapalo, Alto Xingú, em 2002. |
7) Comente o que mais
marcou você no trabalho de animação em estúdios fora do Brasil.
Já trabalhei na
Amblimation, em Londres, que foi o estúdio que deu origem à Dreamworks
Animation, na Califórnia. Trabalhei na Disney de Paris. Trabalhei com vários
outros estúdios, mas diretamente do Brasil, contribuindo como free-lancer.
Atualmente sou Diretor de Arte de um pequeno estúdio em New York City, o Little
Airplane, que produz para canais de TV como Discovery e Disney. Talvez o que
mais tenha me marcado seja a preocupação desses estúdios em realmente saber o
que o público pensa dos filmes. No Brasil os estúdios fazem interpretações
muito vagas do que seja a reação do público.
8) Como você vê a
hierarquização de estúdios, animadores e formas de fazer animações nos USA,
Europa e no Brasil?
A hierarquização é
necessária para alguns tipos de trabalho. É uma conseqüência direta do modelo
social hierárquico da própria sociedade. Eu estava estudando uma outra forma de
produzir quando criei o NUPA, mais baseada nas idéias de John Ruskin e do
modelo medieval de estúdio, de produção coletiva, que tem uma hierarquia mais
leve, de consulta e aprendizado.
Ao menos na Europa e EUA a hierarquização não significa necessariamente um desrespeito humano com as pessoas, ainda que existam abusos em alguns lugares. O estúdio em que trabalho em NYC co-produz com a China. Faz parte do meu trabalho como diretor de arte fazer uma avaliação do trabalho produzido na China. Lá a hierarquização é ainda mais pesada, pouco espaço pra pensar por conta própria. E a direção tem mão pesada. É como o modelo político do pais, não é?
Ao menos na Europa e EUA a hierarquização não significa necessariamente um desrespeito humano com as pessoas, ainda que existam abusos em alguns lugares. O estúdio em que trabalho em NYC co-produz com a China. Faz parte do meu trabalho como diretor de arte fazer uma avaliação do trabalho produzido na China. Lá a hierarquização é ainda mais pesada, pouco espaço pra pensar por conta própria. E a direção tem mão pesada. É como o modelo político do pais, não é?
9) Em sua obra. Você se
inspirou em algum cineasta ou animador?
Minhas influências vem
mais da literatura latino-americana, da dança contemporânea, dos quadrinhos europeus
dos anos 70-80 e de alguns pintores diversos. E principalmente da própria
natureza. Natura Artis Magistra.
10) O que é o cinema de
animação no Brasil hoje? Como chegou a ser o que é? Qual foi e é a sua
importância (se teve/tem)? Quais foram os elementos mais determinantes ao longo
de sua história? O que já foi feito e o que precisa ser feito em termos de um incentivo
à produção contemporânea?
Essa pergunta não dá pra
responder. É ampla demais.
O que posso dizer é que
quando consegui implantar o NUPA em São Paulo estava exatamente trabalhando nos
pontos principais que precisam ser tratados:
-
Formação
profissional consistente e original.
-
Linguagem
própria que ao mesmo tempo tenha grande alcance de público.
-
Temática
que se afaste dos clichês e aproxime os filmes de um conteúdo capaz de fazer
refletir sem ser pessimista
-
Adequação
da verba de produção a resultados melhores na tela mas capaz de propiciar vida
digna aos artistas e técnicos. Verba realista.
-
Criação
de repertório e estilo inovador.
-
Inovação
na forma de trabalhar coletivamente.
Os filmes que fizemos no
período em que o NUPA existiu podem ser assistidos e comprovam o que eu digo.
Acompanhar o destino dos alunos e artistas que participaram do projeto também
comprava que estávamos no caminho certo.
Lamentável que a política
mesquinha e desonesta do Brasil tenha novamente destruído mais uma boa
iniciativa.
11) A animação dependeu de
iniciativas particulares? O cinema de animação brasileiro vingou por teimosia?
Com certeza sim.
Céu D’Ellia
New York City, NY julho de
2016
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