domingo, 8 de agosto de 2010

Peugadas de toelho nas areias do tempo



O que vai abaixo é um trecho de The History of Animation, de Charles Solomon


O autor está tentando explicar como os cartoons do período mais genial do desenho animado deixaram de ser produzidos. Entre os (então e ainda) popularíssimos Tom & Jerry e os cult Tex Avery, toda uma gama de criações que, passados SESSENTA anos, continuam a ser exibidos no mundo todo, sustentar a atenção, polemizar e, dependendo do caso, tocar o sino da caixa registradora.


O texto permite uma longa discussão. Que fica para o momento oportuno. Por hora, chamo apenas atenção para os dois destaques em asterísco. O primeiro é do Solomon. Mas o segundo é meu. 


Aí vai:

Os cartuns de Hollywood foram vítimas colaterais da decisão de 1944 da Suprema Corte dos E.U.A., que forçou os estúdios de filmes a que vendessem salas de exibição que possuíssem e descontinuassem a prática de “block booking” (reserva em pacote). Com block booking, se o dono de uma sala quisesse exibir um longa-sucesso de um estúdio, tinha que pegar também um segundo longa, um cartoon e, frequentemente, um noticiário. Uma porcentagem do pacote total era usada para financiar o departamento de animação do estúdio. 
Programas com filmes tinham mudado no meio dos anos 1950. As “extravaganzas” (programações elaboradas de entretenimento, com curtas de animação, filme musical e outros anexos que compunham com o longa principal) que duravam uma tarde inteira nos anos 1930, haviam sido substituídas por dois longas. Proprietários de salas de exibição recusavam pagar mais que uma taxa de aluguel mínima por um curta. Tornou-se bastante óbvio que cartoons não poderiam recuperar seus custos de produção em seu lançamento inicial*1, e um por um, os estúdios pararam de produzir cartoons. MGM estava entre os primeiros a fechar. 
Ninguém parecia se dar conta que um cartoon poderia ser relançado por anos a fio – e faturar um lucro substancial. A contínua popularidade dos clássicos cartoons Warner, MGM, Fleischer e Disney na televisão e, subsequentemente em vídeo cassete (dvd, blue-ray, i-tunes) provaram quão longa é a vida de uma boa animação*2. Desafortunadamente, executivos de estúdios durante os anos 1950 tinham a visão estreita demais para reconhecer o fato e os cartoons de Hollywood foram desnecessariamente sacrificados.

2 comentários:

  1. Ah, eu vi uma entrevista com o Kiko da TV Pinguim em que ele disse que o Peixonauta só pagaria seus custos de produção depois de anos e anos, incluindo subprodutos e etc.
    O que eu não sei é o que faz uma animação ser boa o suficiente para resistir ao teste do tempo... Não deixo de pensar que todo o conteúdo audiovisual tem que dialogar com o público da própria época, que nada é eterno e já tem várias gags do Tex Avery que hoje em dia não são mais tão engraçadas, perderam o referencial...

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  2. Marcelo,

    O papo pode ser longo e inevitavelmente ficar no campo da expeculação. Mas acho que vale a análise.

    Minha opinião é que os filmes tem, primeiro, que buscarem serem bons no seu tempo. Bom é um conceito abstrato, claro. Mas pra fazer mais da mesma coisa e com menos qualidade, acho melhor deixar pra lá. O que não impediu, por exemplo, o Paul Terry de fazer filmes medianos durante décadas e acabar acertando no alvo depois de quatro décadas, quando o monte de coisas mais ou menos que fazia pro cinema viraram coisas super bem feitas quando exibidas na tv.

    Humor é também uma coisa muito regional. Tex Avery, até HOJE é considerado um gênio de humor na França. Os clássico do Tom & Jerry são hit na Índia e as crianças brasileiras preferem Pica Pau a Bob Esponja. Dias atrás, em Paraty, Bob Crumb, que atualmente mora na França, disse que (ironia?) respeitava mais os brasileiros por saber que gostam dos 3 Patetas, já que os franceses os acham estúpidos e sem graça.

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