quarta-feira, 19 de maio de 2010

Debatendo o NUPA



Ainda não fechamos a questão, mas tudo indica que o Núcleo Paulistano de Animação no CCJ vai se chamar NUPA. 


Leonardo Ferreira é alguém que participou do Fazendesenhanimado de Maio e me mandou a mensagem abaixo. Como os questionamentos que ele faz são bem pertinentes e podem ajudar a entender melhor o que estamos fazendo no NUPA, pedi a ele autorização para postar sua mensagem e minha resposta aqui.
Quem quiser aproveitar e interagir, fazer comentários, perguntas, sinta-se a vontade.




On  13.05.10 13:46, "leonardo alves ferreira" wrote:
Olá Céu, me chamo Leonardo, participei do último encontro do Núcleo Paulistano de Animação do CCJ com o Fábio Yabu.
Eu só não tenho certeza se era você que me respondeu a pergunta que fiz para o Fábio sobre o porque que produzir animação no Brasil é tão caro, mas acho que era.
Estou enviando esse e-mail pois eu realmente quero trabalhar nessa área e procuro sempre estar informado sobre como funciona os processos de produção, o mercado, etc. espero que possa me esclarecer sobre coisas que venho pensando e me dar sua opinião.

Com base na sua resposta do porque ser tão caro produzir animação e no que o Fábio falou sobre manter uma equipe por um bom tempo (anos), concordo que o alto custo se justifica.
O que venho me questionando é se não existem alternativas, sei que ainda não temos uma industria consolidada com mão de obra qualificada, mas meu foco é no modelo de negócio.

Do que vejo a tecnologia vem possibilitando o baixo custo de produção com relação a hardware e software, e distribuição também já não é um problema pela web, do que li em pesquisas as pessoas estão passando mais tempo na web do que vendo TV, se falando de animação japonesa então o que se assiste por aqui é tudo pela web, as TVs vejo que não dariam conta e acho que até não tem interesse de transmitir tudo o que se produz no Japão. Não nego que a pirataria tem seu lado negativo e destroi a industria e os modelos de negócio do setor (seja pela web ou na barraquinha por R$5).
Não sei se por circusntâncias da realidade brasileira, mas o que se produz por aqui tem o foco em transmissão pela TV, no japão e E.U.A. isso já está mais resolvido, eles tem sites de vídeos streaming (hulu por exemplo) onde o conteúdo é liberado para quem está no pais, funciona como na TV onde todos vêem de graça mas se vincula publicidade ao conteúdo (o que é justo),  isso vejo que ainda não chegou por aqui.

Do jeito que as coisas estão indo acho que o problema já não é distribuição, tem muito conteúdo de animação que começou de graça na web (happy tree friends, pucca) e foi pra TV, enfim, acho que o problema central é a produção, como manter uma equipe.

Ai fiquei pensando, os músicos também estão enfrentando problemas e discussões por causa do impacto das novas tecnologias mas muita coisa está se resolvendo: eles fazem mais shows, vendem a música pelo Itunes, se auto-pirateiam, etc. mas o que me chamou a atenção é que existem coletivos de músicos, que conseguem gerir problemas comuns entre eles e se sustentarem com música.

Sendo assim por que não existirem coletivos de animadores? só um exemplo, você deve ter ouvido falar do Aniboon, é uma espécie de rede social de animadores de todo o mundo onde produzem animações cada um de sua cada fazendo alguma etapa, isso reduz custo com locação de escritório e como os processos estão cada vez mais digitais, gastos com papel também é reduzido.

Claro que todo o modelo que estou sugerindo não é simplista, a grande questão ainda seria quem vai pagar o salário dos animadores? Distribuição não é o problema, produzir em rede e reduzir custos com hardware e softwre é possível, sendo assim por que ao invés de chamar os animadores para serem empregados por que não os chamarem para serem parceiros dividir os riscos vejo que seria melhor para todos, pois num primeiro momento o dinheiro pode não aparecer, mas lá na frente quando ele aparecer viria maior com a divisão de receita publicitaria por exemplo. Esse modelo seria viável para animações curtas e não com anos de produção no que sugiro.

Bem, acho que coloquei as coisas que gostaria de compartilhar, tenho pensado sobre isso depois de ler livros como A cauda longa, Wikinomics, FREE, etc. O que acha?
Tem mais uma coisa, não sei se está por dentro desses assuntos, mas a intenção de se formar o Núcleo paulistano de animação vai em direção disso que falei em alguma maneira? E o Coletivo P.A. é um coletivo de animadores?

Por enquanto é isso, acho que escrevi muito, mas espero que possa colaborar com alguma ideia.

Obrigado pela atenção e aguardo resposta.

Leonardo


Minha resposta:

Olá Leonardo,

Seus questionamentos são todos bem pertinentes.

Ainda não conheço os resultados do Hulu o suficiente para saber se o negócio já é capaz de bancar produção de novo conteúdo ou se por enquanto apenas reutiliza material pré-existente (e que já lucrou em outras mídias), na esperança de atrair vedores e tornar-se um canal rentável no futuro.

A distribuição ainda é um gargalo importante e não dá pra dizer que seja um problema resolvido. Mas concordo totalmente com você que a web aponta para novas possibilidades e que, a exemplo do que está acontecendo com a música, novas formas de negócio (e produção) podem e precisam ser pensadas.

É verdade que a idéia de criar modelos de participação dos artistas nos resultados financeiros do produto é uma alternativa. Na verdade nem tão nova. A Pixar já fez isso com muito sucesso há quase 20 anos, quando o negócio da animação em CG ainda era uma incógnita.

O Coletivo P.A., que é parte da implantação do Núcleo Paulistano de Animação no CCJ, é um processo que, sim, tem como meta construir um Coletivo de Animadores. Tudo dependerá do próprio desenvolvimento, potencial  e suor dos participantes do Núcleo. Ainda estamos no começo da realização do projeto e o que posso lhe dizer agora é que o objetivo é exatamente construir novas formas de produzir e distribuir, menos preocupadas em reproduzir formatos consagrados (como séries de TV e longas de cinema) e mais voltadas a comunicar-se com a comunidade da qual faz parte.

Nossa aposta é que a Produção Cultural, quando apta a reagir e interagir com o interesse do público, acaba encontrando naturalmente seu canal de viabilização.

Por favor, continue participando, opinando e criticando. Fique ligado em nossa programação e nos auxilie a divulgá-la. Acredito que em junho já estaremos lançando um programa de animação residente.
Você tem um portfólio de trabalhos seus para nós conhecermos?
Abraço e obrigado pela ótima mensagem.
Céu D'Ellia

5 comentários:

  1. Olá Céu, sou eu denovo. Eu não tinha parado pra pensar que o conteúdo do Hulu é retransmitido, mas dei uma procura e achei essa informação: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/04/01/hulu-atinge-2-trimestres-seguidos-de-lucro-e-fatura-us-100-milhoes-em-2009/
    Achei outras notícias dizendo que o modelo do Hulu não teria um futuro certo, mas tudo é uma questão de negociação de interesses. Acho que esse é um modelo alternativo pro Brasil se falando de animação pois me parece sustentável, levando em consideração que as emissoras estão dispostas a pagar apenas R$6.000 por 10 minutos de produção que custariam no mínimo R$20.000 (achei essas informações na web).
    Sobre o coletivo de animadores me veio uma questão sobre a temática das produções que serão realizadas por ele, no caso o CCJ e o núcleo é financiado pela prefeitura de São Paulo certo? Sendo assim o que viria a ser produzido pelo NUPA seriam produções sem fins lucrativos, ou será que o próximo Bob Esponja, Simpison, etc. poderia sair através do NUPA?
    Por enquanto é isso valeu!

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  2. Leonardo,
    Em relação ao Hulu, tudo depende de como se faz a conta. O caso do lucro deve estar considerando o investimento e o retorno de publicidade, que deu um saldo positivo. Se tivessem que incluir custo de produção dos programas (que não precisa, pois vieram de graça), o saldo certamente seria outro.
    Mas como eu disse, isso não invalida a aposta. Pode chegar o momento em que o lucro justifique investir em conteúdo próprio, e o negócio anda.
    Em relação aos valores que você apresenta, tenho umas informações diferentes. Infelizmente. Não conheço emissoras brasileiras pagando esse preço que você se refere, mas entre R$2.000 e R$5.000 por meia hora de programa infantil. Será que você não confundiu com preço pago em outros países ou preço de algum investimento em que a TV fica dona dos direitos do material? O preço mínimo de R$ 20.000 está mais ou menos correto. Mas bota mínimo nisso... Se puder, me passa o link web com essas informações, pra eu dar uma checada.
    Sobre o Coletivo no NUPA, a questão primeira é criar um canal de comunicação e cultura com a Cidade de São Paulo. Isso não impede o produto cultural de ser lucrativo, se surgir lucro. Nesse caso o lucro é investido em um fundo cultural segundo determinações legais do Município.
    Todos querem ser o próximo Cartoon Amarelo, né?
    Eu também!

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  3. E ai Céu! Então eu realmente estou desatualizado com relação ao o valor que eu disse, procurei muito na internet já faz um tempo, mas infelismente não tenho o link.
    Voltando um pouco, ao meu ver as coisas aqui no Brasil andam lentamente devido a falta de mão de obra (e qualificada), como você já complementou, e do que converso e vejo relatos na web as pessoas que fazem animação estão voltadas pro mercado publicitário que acaba sendo a alternativa sustentável pra se trabalhar com animação por aqui, sendo assim você acha que existe empresas interessadas em investir em produção que não seja publicitária aqui no Brasil ou não investem por que não existem projetos que interessem á elas? No caso do Fábio Yabu teve de ir em feiras lá fora para que suas idéias virarem animação como ele disse, sendo assim conseguir esse tipo de apoio por aqui você acha algo distante? Só pra citar um exemplo vejo que isso é uma pratica comum no exterior onde empresas de brinquedos como a Bandai e Hasbro financiam muitas produções, já por aqui tentei conversar a respeito com uma empresa de brinquedo e eles simplesmente me disseram que não financiam esse tipo de projeto, seja através de leis de incentivo ou não.

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  4. Falando em novas midias para animação vcs sabem que a Burguer King patrocinou umas animações pra botar no YouTube, né?

    http://maragao.com.br/2008/09/burger-king-e-google-lancam-desenho-animado-na-web/

    t+,
    Marcelo

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  5. Esse lance do Burger King com o Seth MacFarlane é interessante porque deixa claro que a mídia de canais gratuitos na web já interessa o suficiente para anunciantes bancarem produção nova.
    No entanto, não quer dizer que anunciantes apostariam em algum criador inédito ou, principalmente, criações desconhecidas: vejam que o Burger King apostou "somente" no autor norte americano mais popular do momento.
    Mas não importa. Ainda que não seja muito diferente de ganhar na loteria, possivelmente os próximos criadores e as próximas criações vão se lançar, em primeiro lugar, através da web. É o que parece.

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