dezinfluênciasmaisuma 7: Mattotti*1
- A (formação em) arquitetura me fez compreender que os cenários são às vezes mais importantes que os personagens para contar uma história.
- O fato (de passar muitos anos, no início) sem conseguir ser publicado, me deu talvez a energia de dizer a mim mesmo: "- Tanto pior, eu irei até o final, eu conseguirei chegar em alguma coisa!"
- Eu venho de uma geração para a qual todos os meus lados loucos, surrealistas, eram ideologicamente suspeitos. Minha geração tentava falar do real. Minha ideia era que os quadrinhos podiam também falar do real.
- Nós nos interessávamos pela música de Brian Eno, nós queríamos destruir todas as estruturas. Eu adorava Henri Michaux, Raymond Queneau, a ideia de brincar com os códigos de forma irônica, pataphysica*2. Os leitores escreviam para reclamar: "- Não estamos compreendendo nada, tirem eles da revista (Alter/Linus)! Isso não é quadrinhos! Eles estão destruindo os quadrinhos..." Mas para nós, isso não era destruir, mas misturar, reinterpretar os clichês, quebrar fronteiras.
Prancha de Le Bruit du Givre (O Ruído do Orvalho) |
- Há um momento em que uma imagem se impõe pela sua força, e eu decido de a "seguir", pode-se dizer, em detrimento da história. Com Fogos (Feux)*3, eu percebi que controlar esse irracional é a chave. Não deveria seguir a lógica do texto, que cria um excesso de obrigações para o desenho, mas seguir a lógica do desenho. É a boa rota pra mim. A história é criada com as imagens.
- Eu tinha as idéias dos diálogos, mas eu não os escrevia. Eu primeiro desenhava a cena.
- Os desenhos fazem parte de minha vida. É uma energia que deve sair de mim... Um gravador toscano me disse algo que tomou um papel importante em minha vida: "- Cada dia que passa você deve fazer avançar o seu trabalho. Cada sinal desenhado fará parte de sua vida. Se você constrói passo a passo, então no dia em que você sentir-se perdido, você se voltará e verá o que fez: é sua vida. Você nunca se perderá: ao menos você saberá o que fez ontem. Da mesma maneira, você pode desenhar o mesmo rosto todos os dias: ao longo do tempo, isso fixará aquilo que você é, porque os signos mudam e esse mesmo rosto será completamente diferente."
- Aquilo que sempre retorna, eu creio, são esses momentos em que um personagem compreende que faz parte das pessoas que estão a seu redor, que há uma harmonia do mundo, esses momentos em que nos dizemos que é bom estar vivo. Esses momentos fazem parte de minha vida: podem ser durante uma sessão de meditação respiratória, durante o amor com uma mulher, admirando uma paisagem depois da tempestade... Então nós estamos conscientes de nós mesmos, nós sabemos que fazemos parte do mundo; e não há nada a explicar.
*1n.b.- Depoimentos recolhidos por Gilles Ciment e Jean-Pierre Mercier do artista italiano Lorenzo Mattotti e publicados em 9e Art, número 9. Entrevistado em Paris, em março de 2003.
*2n.b.- Pataphysica, ciência das soluções imaginarias, inventada pelo escritor dramaturgo Alfred Jarry
*3n.b.- Feux é uma HQ de 1986 que marcou o amadurecimento de Mattotti como criador.
dezinfluênciasmaisuma 1: Cosey
dezinfluênciasmaisuma 2: Pintura Corporal
dezinfluênciasmaisuma 3: Franquin
dezinfluênciasmaisuma 4: Monet
dezinfluênciasmaisuma 5: Nine
dezinfluênciasmaisuma 6: Les Nabis
Muito legal!!
ResponderEliminarTem conteúdo tá.
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