Stevenson repentinamente teve a impressão de que muitas horas haviam se passado, desde que ele inicialmente entrara na sala com Mister Baker. Teria seu anfitrião começado a falar apenas agora? Ele não podia dizer. Perto da garrafa, que estava novamente cheia, estava uma travessa com pequenos peixes fritos, a qual ele não percebera antes. E os negros olhos fixos lhe pareceram como os olhos de uma única criatura redonda, que do meio da mesa o encarava horrivelmente.
Que horas eram? De algum lugar, uma sala no fundo, veio o tique-taque de um relógio. Stevenson lembrou-se da história de um monge que foi distraído de seu trabalho de cópia pelo canto de um pássaro. Foi até o jardim para o ouvir mais de perto e, quando retornou, depois do que pensara fossem apenas alguns minutos, descobriu que um século se passara, que seus companheiros monges estavam mortos e sua tinta transformara-se em pó. O canto do pássaro lhe oferecera experimentar o Paraíso, onde um instante equivale a 100 anos de tempo na terra.
Aplicaria-se a mesma verdade no inferno, perguntou-se Stevenson.
Trecho de "Stevenson debaixo das palmeiras".
Alberto Manguel (1948- ), Argentina/Canadá
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